Jardim de Flores — Parte 1/3

Crônicas A Mais
11 min readMay 23, 2023

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Créditos: labellecicatrice @labellecicatrice.art

Gabi

Já sabíamos o que procurar, só não sabíamos onde.
“Pode ir tomando banho, deixa que eu vejo.”
Flor pegou o celular na cabeceira ao lado enquanto eu me levantava da cama, envolvida no lençol. Meu corpo resistiu levemente, resmungando.
“Não tenho mais pique pra transar assim.”
“Assim como, Gabi?”
Ela sentava na parede da cama, de pernas esticadas, coberta pelo lençol até o pescoço.
Provoquei ela: “Quer que eu te mostre?”
Levantei uma perna por cima dela e sentei-me em seu colo.
Ela me olhou com uma expressão mista de seriedade e safadeza.
“Você não cansa não?”
Eu sorri. “Sei lá, você me dá fome.”
“Pede o serviço de quarto, então.”
“Não é dessa fome que eu tô falando.”
Brinquei com sua pele, traçando meus dedos no lençol.
Com um gemido de Flor achei o que procurava, acariciando sua púbis por cima da roupa de cama.
“A gente acabou de transar… Vê se guarda um pouco pra mais tarde.”
Comecei a me esfregar lentamente, rebolando em seus joelhos.
“Você sempre foi safada assim, Gabi?”
“Acho que fiquei um pouco mais, desde aquela vez no banheiro, naquela festa.”
“A gente nem transou lá.”
Relembrei o que tinha acontecido e me aquietei um pouco.
“É, acho que eu não estava muito na vibe, sabe?”
“Tudo bem, eu não me arrependo de nada…”
Ela se aproximou e me beijou, enlaçando meu pescoço com os braços.
Sua boca, cativante, procurava a minha.
Fechamos os olhos, aproveitamos o momento em um longo beijo.
Peguei sua mão e tracejei ao longo da minha perna, até o ponto de encontro de minhas coxas.
“Caralho, Gabi, você tá muito molhada.”
Não falamos mais nada.
Começou a me tocar, com mais calma. Aquela foi a transa de saudade. Agora era a transa de carinho.
Rebolei em seus dedos, vendo o lençol abaixo de mim úmido com minha excitação.
Flor deixou cair seu lençol, mostrando seus fartos peitos de mamilos já endurecidos, antes de sumir com sua mão para dentro do labirinto de panos brancos.
Ela se masturbava junto comigo enquanto eu gemia ao sentir minha buceta pulsando em seus dedos.
Mas meu corpo realmente estava cansado. Não ia conseguir gozar. Não depois das três gozadas da noite anterior.
Fui reduzindo meus gemidos, respirei devagar, e pensei: “Está tudo bem.”
Beijei o peito de Flor, como quem prova a fruta mais madura. Cheirei seu corpo que exalava o cheiro de nossos próprios sexos. Perfume divino.
“Vou tomar banho”, disse, acordando de meu transe de prazer, e levantei.
Flor riu e pegou novamente o celular.
Ela parecia a mesma garota de 20 e poucos anos que conheci há tantos anos.
Talvez ela dissesse o mesmo sobre mim.
Há algo no tesão que faz a gente parecer jovem, como amigas em uma aventura em um país estrangeiro. Sempre curiosas.
Entrei no banho, tive carinho comigo mesma. Deixei a água quente cair e relaxar meus músculos cansados.
Aproveitei o sabão do hotel que cheirava à versão mais genérica de lavanda possível. Percebi o quanto eu gostava do cheiro de Flor. Do cheiro de sua xota. Já estava excitada só de lembrar.
Sorri, mordi os lábios, toquei meu próprio prazer como se reconhecendo sua presença.
Lavei meus cachos carinhosamente, lembrando dos toques sensíveis de Flor.
Saí do banho envolta pela toalha enquanto ela me informava das novidades.
“Achei uma Sex Shop perto daqui, mas só abre às onze.”
“Que horas são?”
“Oito.”
Suspirei. Dava tempo de tomar um café no hotel.
Flor cogitou a possibilidade.
“Acho que não quero arriscar encontrar algum de nossos colegas de trabalho.”
“Bem pensado”
Botei minha calcinha bege-claro e uma calça jeans.
“Afinal, tem uma mesa-redonda às onze horas. Uma mesa que a gente vai faltar…”
“Sobre o quê?”
“Como dominar seu espírito impulsivo”
Ela riu da ironia.
“O quê? Você me acha impulsiva?”
Vesti um sutiã branco e uma camisa fina de botões.
“Ah, não sei, Gabi, tem gente que falaria que sair para procurar um vibrador pra comer sua peguete, enquanto você viaja em outra cidade… como algo impulsivo.”
Senti minhas bochechas corarem enquanto lembrava do que dissera à noite passada, no calor do momento.
Não me arrependia de nada.
“Eu ainda quero você gozando enquanto você me come.”
Ela mordeu o lábio, claramente excitada.
“Vai tomar banho, mulher.”

Créditos: labellecicatrice @labellecicatrice.art

Comemos rapidamente um café da manhã reforçado: suco de laranja, torradas, bolo, chá e café. Tudo que nós tínhamos direito.
Ficamos preocupadas de sermos vistas por alguém do trabalho. Fizemos a linha discreta. Não houve carinhos fora do hotel, nem mãos dadas. Expressávamos nosso desejo uma pela outra apenas por olhares.
De resto, éramos como boas amigas, andando de braços dados.
Mas meu corpo cobrava, mesmo depois de receber tanto prazer, de ser tão bem cuidado. Minhas pernas reclamavam da noite enquanto andávamos.
Alcançamos a primeira sex shop a dois quarteirões do café.
Era uma loja elegante, de esquina, com luzes néon em tons cor-de-rosa.
Pink Desire era seu nome. Diferente de outras shops, essa não escondia seu interior.
A vitrine mostrava uma série de manequins em lingerie, apoiadas uma nas outras como amigas-modelo em uma sessão de fotos.
Entramos anunciadas por um sino eletrônico na porta, e fomos recebidas por uma simpática atendente.
“Não me digam nada… Noite de garotas? Despedida para a amiga em-breve-casada?”
Censurei-me. Queria falar em alto e bom tom como eu queria fazer Flor gozar, como eu queria sentar em seu quadril enquanto um dildo vibrava em seu ventre…
Mas não estávamos mais no hotel. E a luz do dia me trouxe sobriedade.
Enquanto Flor falava com ela, notei que não havia muitos brinquedos em exibição.
“Já sabem o que desejam?”
Nós ficamos em silêncio, decidindo quanta sinceridade o momento pedia.
“Entendi. Podem andar um pouco pela loja, e aí vocês me falam sobre o que chamar atenção.”
Nos afastamos do balcão e circulamos pela loja.
“Para uma Sex Shop, não tem muita coisa por aqui…”
Flor cutucou meu ombro.
“Vê se se comporta.”
Demos uma risadinha e continuamos a procurar.
As estantes metálicas em preto e rosa mostravam alguns exemplares de brinquedos, desde os clássicos paus de borracha até invenções que pareciam ter saído de um filme de ficção científica.
Resolvi deixar Flor andando lentamente como quem visita uma exposição de museu.
Aproximei-me da atendente.
“Bom dia. Qual seu nome?”
“Keitlyn…”
Sussurrei, envergonhada:
“Keitlyn, vocês tem…”
Ela me fitou, como se acostumada a esse tipo de pausa dramática.
“… Aquelas cintas.”
“Um cintaralho?”
Levantei as sobrancelhas, cínica.
“Não, só algo para encaixar um brinquedo, mesmo…”
“Estamos em falta. Deve chegar mês que vem…”
Antes que pudesse continuar, Flor me chamava de volta.
A atendente me olhou, desconfiada, cada vez mais desacreditada que éramos amigas à procura de um presente divertido.
“Olha isso aqui, Gabi.”
Ela estava parada ao lado de um mostruário de roupas íntimas e fantasias sexuais de bombeiro, policial, enfermeira.
Flor segurava um pacote de lingerie rosa. Era o mesmo modelo que ela tinha visto em minha mala, na manhã anterior.
“É para a gente usar combinando?”
“Só se você quiser”
Flor sorriu e seguiu com a compra.
Não achamos o que viemos procurar inicialmente, mas não desistimos. Compramos o conjunto de renda rosa e seguimos para a próxima loja da lista.

Créditos: labellecicatrice @labellecicatrice.art

Flor

Na terceira loja tivemos mais sorte, saímos com um embrulho discreto, em papel crepom marrom.
Agarrava a sacola junto ao peito, como se alguém fosse roubar o meu mais novo bem precioso.
Enquanto andávamos de volta ao hotel, me perguntei se as pessoas que nos olhavam sabiam o que estávamos tramando.
Nossas mãos dadas poderiam ser facilmente confundidas por amor de irmãs, amigas ou parentes.
Mal Gabi sabia que os seus toques em minha palma já eram suficientes para me excitar.
Sentia meu interior vibrando, retumbando, ansiava pela privacidade de apenas algumas paredes para finalmente consumar sua fantasia.
Enrolamos no almoço como duas adolescentes apaixonadas, conversando sobre tudo enquanto esperávamos a comida.
Combinamos em chegar ao hotel em horários diferentes para despistar qualquer curioso.
Gabi tinha ido na frente e me deixou para trás.
Só lembrava de como ela ficava bonita sorrindo por detrás daqueles cachos loiros…
Cheguei dez minutos depois e peguei o elevador sozinha.
Ainda estava com o embrulho na mão quando o elevador parou no segundo andar, o andar da sala de conferências.
E quem entrou? Clara, do RH.
“Ahm, olá, senhorita Bruher.”
Ela olhou para mim, ao mesmo tempo divertida e curiosa.
“Olá, senhora Moreno”.
Apertou o botão do sétimo andar e olhou para cima, procurando a câmera do elevador.
Deu breves passos pelo elevador e se posicionou ao meu lado, levemente atrás de mim.
“Não vi você na mesa-redonda de manhã, Flor…”
Olhei por cima do ombro, evitando contato direto. Afinal, ainda me sentia atraída por ela.
“Na verdade, também não vi a senhorita Castro.”
Ela parecia suspeitar de algo. Será que deveria contar?
“E esse pacote? É pra mim?”
Meu silêncio me traiu, pois só trouxe mais atenção a mim.
“São só sobras do almoço, Clara…”
Senti sua respiração em minha nuca enquanto ela se aproximou de mim.
Mantive-me imóvel, resistindo ao máximo.
Mas não resisti ao beijo que ela deixou em meu pescoço. Logo meu ponto fraco…
Olhei para cima e percebi que a câmera não a veria por trás de mim.
“Vai dizer que eu não te excito mais?”
Fechei os olhos e gemi ao sentir sua mão passando em minha bunda.
“Se você botasse a mão em minha calcinha você saberia a resposta.”
Não a vi mordendo o lábio, mas já a conhecia o suficiente para saber como ela reagiria.
“Sorte sua que há uma câmera nos olhando.”
Agarrei mais forte o pacote perto do peito, como se ele fosse me proteger daquela avalanche europeia chamada Clara.
“Sorte…”
Sua mão passeava por entre minhas pernas acariciando minha bunda por trás.
“… ou azar.”
O elevador apitou ao atingirmos o sexto andar.
Fui salva pelo gongo. Respirei fundo, aliviada.
Mas ela não saltou, apenas se afastou um pouco de mim, escondendo-se.
“Tá descendo?” Uma desconhecida de meia-idade perguntava.
“Tá subindo.”
E as portas se fechavam novamente, me deixando refém à agressividade alemã de Clara.
“Essa noite tem um show interessante aqui na cidade. Vou te mandar os detalhes por mensagem.”
“Eu não sei se vai rolar…”
Ela se aproximava novamente de mim, passando a mão pelo lado dos meus quadris.
“Vamos, senhora Moreno, a empresa paga. Podemos chamar de despesas de viagem.”
Peguei a mão dela, afastando-a.
“Você não presta mesmo não.”
O elevador abriu as portas no sétimo andar e ela se afastou, sorrindo enquanto saltava do elevador.
Virou-se e completou, com as portas se fechando:
“Ah, e pode levar a Gabi também.”
Só vislumbrei aquele sorriso safado característico antes dela sumir no 7o andar e me deixar sozinha novamente no elevador.
Sozinha com meus pensamentos impuros.

Gabi

Flor me jogou na cama.
Olhei para o espelho ao lado da sala que refletia o quarto.
“Nós estamos combinando”
Flor olhava ao espelho enquanto ela subia em mim e olhava sua reflexão beijando meus peitos.
“Você fica bem de rosa”
O chão, decorado com minha calça jeans e camisa de botão.
“E você fica bem de roxo”
A cadeira, decorada com minha calcinha bege.
Não sabia se seria possível Flor ficar mais gostosa do que ela já era, mas vê-la de lingerie só me deixava com mais vontade de estrear nosso mais novo brinquedo.
Virei-me na cama, ficando por cima dela.
Ela já estava gemendo quando eu esfreguei minha palma em sua calcinha.
“Nossa, Gabi, você tá com vontade mesmo né.”
“Você nem sabe, Flor…”
Fiquei em silêncio, pensando se devia falar o que queria.
“Quero você, Flor.”
Minha mão alcançava dentro de sua calcinha.
“Sua buceta me enlouquece…”
Ela retribuiu com seu joelho, esfregando entre minhas coxas.
“A sua também…”
Nossa roupa nova não durou muito no corpo.
Em breve já jogávamos os sutiãs no chão do quarto de hotel enquanto nossos corpos se abraçavam como se não transássemos há meses.
Não cansava de sentir Flor se remexendo em minha mão. Seus gemidos me faziam pulsar de tesão.
Sentia meu clitóris endurecendo quando ela pediu para continuarmos.
“Cadê o seu brinquedo?”
Mal sabia ela que já tinha desembrulhado o toy antes mesmo de provar a lingerie.
Ela me olhou com uma cara de vontade que não lembrava de ter visto antes.
“É essa cara que me dá vontade de dar pra você.”
Flor sorriu.
Peguei o toy rosa em minha mão e brinquei um pouco com ele, demonstrando sua flexibilidade.
“Esse lado vai dentro de mim…” rocei o toy por cima de minha calcinha “… e esse lado vai vibrando dentro da sua cinta.” E esfreguei o toy por entre as pernas dela.
“Gabi, você tá acabando comigo, viu?”
“Então espera só para ver o que vou fazer agora…”
Apertei o botão do toy e… nada aconteceu.
“Você… você carregou ele?”
Soltei um riso.
“Ele vem descarregado, é claro. Perdemos o timing mais uma vez.”
Rimos juntas enquanto sentávamos na cama.
“Acho que vou ter que esperar até de noite pra te comer…” Flor beijou meu ombro enquanto tentava me consolar.
“Aiii. Será que aguento até lá?”
“Vai ter que aguentar, gatinha.”
E começou a fazer um de seus famosos cafunés em meus cachos.
Fechei os olhos e aproveitei o momento.
“Gabi, tenho que te falar um negócio.” Sua voz era séria e concentrada.
“Fala, ué.”
“Não quero te deixar chateada, mas… mas eu peguei uma pessoa que você conhece… do trabalho.”
Ri com sua timidez.
“Novidade para você, ein, senhora Moreno?”
“É sério, pô.”
Me virei para ela e a reconfortei.
“Nunca pedi exclusividade, e não posso começar a pedir agora… Me fala quem foi.”
Um silêncio, como se pesasse se devesse contar.
“Peguei a Clara, do RH.”
Eu não pude evitar: ri.
“Nem sabia que ela pegava mulheres.”
“Você não tá chateada?”
“Ahm, só tô meio bolada que não percebi antes. Ela é uma gata, Flor!”
“Você não presta.”
“Sei lá, acho que fiquei excitada de imaginar vocês duas transando.”
Ela me deu um tapa brincalhão no ombro.
“Safada.”
Flor continuou.
“Na verdade, ela me falou de um show hoje à noite. Acho que ela suspeita de nós…”
“Do nada, fiquei afim de sair hoje.”
Brinquei com ela, passeando meus dedos por suas mechas de cabelo escuro que fugiam do corte Chanel.
“É um show da Tulipa Ruiz com Marcelo Jeneci.”
“Bem da sua idade né?”
“Tá me chamando de velha?”
“Não tô reclamando, apenas comentando.”
Flor riu e se afastou de mim, pensativa.
Cortei o silêncio: “Pra mim parece um rolê de hétero.”
“Prometo que não vou dar muita pinta.”
“Bobona”
E continuamos, sem vibrador, mas com tanta vontade quanto antes.

Créditos: labellecicatrice @labellecicatrice.art

28 de novembro de 2022

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